I
Foi perseverante
De fracasso em fracasso
Fracassou de todas as formas
II
Perdi o poema
Numa estiagem
De metáforas
III
Se eu ressuscitasse o Mar Morto
Pediria às suas águas
A paixão que se afogou em mágoas
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
As rosas - Machado de Assis
Rosas que desabrochais,
Como os primeiro amores,
Aos suaves resplendores
Matinais;
Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco valeç é o diadema
Da ilusão.
Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
EM vão, como penhor de puro afeto,
como um elo das almas,
Passas do seio amante ao seio amante;
Lá bate a hora infausta
Em que e força morrer; as folhas lindas
As graças e o perfume,
Rosas, que sois então? - Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.
Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese a beleza,
Pereceis;
Mas, não...Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
Floresceis.
Como os primeiro amores,
Aos suaves resplendores
Matinais;
Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco valeç é o diadema
Da ilusão.
Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
EM vão, como penhor de puro afeto,
como um elo das almas,
Passas do seio amante ao seio amante;
Lá bate a hora infausta
Em que e força morrer; as folhas lindas
As graças e o perfume,
Rosas, que sois então? - Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.
Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese a beleza,
Pereceis;
Mas, não...Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
Floresceis.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
7 de agosto - Autoria própria
Meu aniversário chegou
Estava tão indiferente
Que nem o reconheci
Idade que se foi
E na qual não fui
Quis a quimera
Fiquei à espera
Do que devia
Ter vivido e feito
Meus fantasmas estão aqui
Olharam
Sussurraram
Banquetearam
Engordaram
Riram
Troçaram
Enganaram
Esconderam-se
Voltaram
Fortes e persistentes
Com fome de bolo
O calendário me enganou!
E trouxe-me outro aniversário
Sem que eu tivesse
Desembrulhado o anterior
Estava tão indiferente
Que nem o reconheci
Idade que se foi
E na qual não fui
Quis a quimera
Fiquei à espera
Do que devia
Ter vivido e feito
Meus fantasmas estão aqui
Olharam
Sussurraram
Banquetearam
Engordaram
Riram
Troçaram
Enganaram
Esconderam-se
Voltaram
Fortes e persistentes
Com fome de bolo
O calendário me enganou!
E trouxe-me outro aniversário
Sem que eu tivesse
Desembrulhado o anterior
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
A rua dos cataventos - Mário Quintana
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
domingo, 25 de dezembro de 2011
Expulsão do paraíso - Autoria própria
Adão e Eva viviam nos Jardins do Éden
Viam Deus, verdadeira e única fortuna
Na afortunada vida, uma coluna
Somente uma abstinência, um só desdém
“Não provar uma fruta, nada além
Sem outra proibição, sem mais lacuna
Todo o mais, e nada mais há que os puna”
Tendo tudo, quiseram o porém
A serpente que tenta o ser temente
Dourou a tentação da fruta proibida
Curvaram-se ambos a esse mau juízo
Sentiram na carne o que a carne sente
A dor no parto, a doença, a acre ferida
E a nudez na expulsão do Paraíso
Viam Deus, verdadeira e única fortuna
Na afortunada vida, uma coluna
Somente uma abstinência, um só desdém
“Não provar uma fruta, nada além
Sem outra proibição, sem mais lacuna
Todo o mais, e nada mais há que os puna”
Tendo tudo, quiseram o porém
A serpente que tenta o ser temente
Dourou a tentação da fruta proibida
Curvaram-se ambos a esse mau juízo
Sentiram na carne o que a carne sente
A dor no parto, a doença, a acre ferida
E a nudez na expulsão do Paraíso
sábado, 24 de dezembro de 2011
Se eu fosse um padre - Mário Quintana
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
… a um belo poema – ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
… a um belo poema – ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O nada - Autoria própria
Nunca há, nem nunca houve
Todos temem onde não há
No vácuo, no oco, busca-se
Ao menos
O som mouco
Para que haja
Algo que não há
Nem em vaia
Nem em aplauso
Nem em verso
Nem em prosa
É o inverso
Do que é
E do que não será
Porém,
Tendo sido
O que não foi
Deixou de ser
O que não era
Todos temem onde não há
No vácuo, no oco, busca-se
Ao menos
O som mouco
Para que haja
Algo que não há
Nem em vaia
Nem em aplauso
Nem em verso
Nem em prosa
É o inverso
Do que é
E do que não será
Porém,
Tendo sido
O que não foi
Deixou de ser
O que não era
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Gesso e bronze - Castro Alves
FOI CANOVA ou Davi... Um mestre, um escultor,
Duas estátuas fez simbolizando o amor...
Uma — pálida e fria, inda amassada em gesso
No canto da oficina ensaio sem apreço!...
Outra — prodígio d'arte, arrojo peregrino,
Encarnação de luz em bronze fiorentino!...
Uma noite, porém, um raio, o acaso... um nada
O incêndio arremessando à tenda profanada...
No vermelho estendal das cinzas do brasido
Viu-se o esboço de pé!... e o bronze derretido!...
Senhora, Deus também às vezes é escultor,
E gosta de esculpir nos corações o amor...
De argila ou de metal, de barro ou de alabastro
Com o limo com que faz a escuridão e o astro
Mas quando o acaso... um gesto... um riso leviano
Ateia a flama vil de um zelo ardente, insano...
Sabeis o que se dá?
— O amor de gesso medra
De lodo que era há pouco enrija faz-se pedra
................................................
Mas da lava infernal o beijo libertino
Funde a estátua do amor de bronze florentino!!
Duas estátuas fez simbolizando o amor...
Uma — pálida e fria, inda amassada em gesso
No canto da oficina ensaio sem apreço!...
Outra — prodígio d'arte, arrojo peregrino,
Encarnação de luz em bronze fiorentino!...
Uma noite, porém, um raio, o acaso... um nada
O incêndio arremessando à tenda profanada...
No vermelho estendal das cinzas do brasido
Viu-se o esboço de pé!... e o bronze derretido!...
Senhora, Deus também às vezes é escultor,
E gosta de esculpir nos corações o amor...
De argila ou de metal, de barro ou de alabastro
Com o limo com que faz a escuridão e o astro
Mas quando o acaso... um gesto... um riso leviano
Ateia a flama vil de um zelo ardente, insano...
Sabeis o que se dá?
— O amor de gesso medra
De lodo que era há pouco enrija faz-se pedra
................................................
Mas da lava infernal o beijo libertino
Funde a estátua do amor de bronze florentino!!
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Nascimento de um poema - Autoria própria
Papel
Brancura
Inquietação
Caneta e vontade
Desejo e
Paixão
Palavras
Encaixe
Idéias surgindo
O poema conduz
O poeta
Que lhe faz
Então
De repente
O poeta pensou
Que estava
Na lua
Mas a lua já fugira
Deixou-lhe o poema
Brancura
Inquietação
Caneta e vontade
Desejo e
Paixão
Palavras
Encaixe
Idéias surgindo
O poema conduz
O poeta
Que lhe faz
Então
De repente
O poeta pensou
Que estava
Na lua
Mas a lua já fugira
Deixou-lhe o poema
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
O "Adeus" de Teresa - Castro Alves
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
domingo, 18 de dezembro de 2011
Beleza - Menotti del Picchia
A beleza das coisas te devasta
como o sol que fascina mas te cega.
Delas contundo a luminosa entrega
nunca se dá, melhor, nunca te basta.
E a imensa paz que para além te arrasta
quanto mais se te esquiva ou te renega...
Paz tão do alto e paz dessa macega
que nos campos esplende à luz mais casta.
A beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca
repetida) que conduz
o teu deslumbramento para um dia
à noite misturado, na clareira
em que te sentes noite em plena luz.
como o sol que fascina mas te cega.
Delas contundo a luminosa entrega
nunca se dá, melhor, nunca te basta.
E a imensa paz que para além te arrasta
quanto mais se te esquiva ou te renega...
Paz tão do alto e paz dessa macega
que nos campos esplende à luz mais casta.
A beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca
repetida) que conduz
o teu deslumbramento para um dia
à noite misturado, na clareira
em que te sentes noite em plena luz.
sábado, 17 de dezembro de 2011
A palavra - Autoria própria
A palavra insere
E também fere.
A palavra encanta
E também desmancha.
A palavra faz andar
E abrevia o parar.
Cuidado!
Palavras perdidas
Devem ser
Devolvidas ao dono
E também fere.
A palavra encanta
E também desmancha.
A palavra faz andar
E abrevia o parar.
Cuidado!
Palavras perdidas
Devem ser
Devolvidas ao dono
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Noite - Menotti Del Picchia
As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.
Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.
Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Soneto da tristeza
A réptil tristeza, sutil na bruma
Da alegria fez sua miragem roubada
E em todas as preces peço que suma
Mas nunca some esta maldita toada
Macabro canto ao peito dilacera
Retire-se já, perverso alquimista!
Pão cuspido que a vida vitupera
Desta rede foge toda conquista
Ah, se congelasse um instante indene!
Porém, nesta dor, não há quem ordene
Pois te confidencio vida cigana
Eu muito invejaria o riso perene
Mas na frente da tristeza tirana
Ele se rendeu no sino solene
Da alegria fez sua miragem roubada
E em todas as preces peço que suma
Mas nunca some esta maldita toada
Macabro canto ao peito dilacera
Retire-se já, perverso alquimista!
Pão cuspido que a vida vitupera
Desta rede foge toda conquista
Ah, se congelasse um instante indene!
Porém, nesta dor, não há quem ordene
Pois te confidencio vida cigana
Eu muito invejaria o riso perene
Mas na frente da tristeza tirana
Ele se rendeu no sino solene
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Amanhã - Gonçalves Dias
Amanhã! — é o sol que desponta,
É a aurora de róseo fulgor,
É a pomba que passa e que estampa
Leve sombra de um lago na flor.
Amanhã! — é a folha orvalhada,
É a rola a carpir-se de dor,
É da brisa o suspiro, — é das aves
Ledo canto, — é da fonte — o frescor.
Amanhã! — são acasos da sorte;
O queixume, o prazer, o amor,
O triunfo que a vida nos doura,
Ou a morte de baço palor.
Amanhã! — é o vento que ruge,
A procela d'horrendo fragor,
É a vida no peito mirrada,
Mal soltando um alento de dor.
Amanhã! — é a folha pendida.
É a fonte sem meigo frescor,
São as aves sem canto, são bosques
Já sem folhas, e o sol sem calor.
Amanhã! — são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor,
Amanhã! — o triunfo, ou a morte;
Amanhã! — o prazer, ou a dor!
Amanhã! — o que val', se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor;
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!
É a aurora de róseo fulgor,
É a pomba que passa e que estampa
Leve sombra de um lago na flor.
Amanhã! — é a folha orvalhada,
É a rola a carpir-se de dor,
É da brisa o suspiro, — é das aves
Ledo canto, — é da fonte — o frescor.
Amanhã! — são acasos da sorte;
O queixume, o prazer, o amor,
O triunfo que a vida nos doura,
Ou a morte de baço palor.
Amanhã! — é o vento que ruge,
A procela d'horrendo fragor,
É a vida no peito mirrada,
Mal soltando um alento de dor.
Amanhã! — é a folha pendida.
É a fonte sem meigo frescor,
São as aves sem canto, são bosques
Já sem folhas, e o sol sem calor.
Amanhã! — são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor,
Amanhã! — o triunfo, ou a morte;
Amanhã! — o prazer, ou a dor!
Amanhã! — o que val', se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor;
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Maremoto - Autoria própria
Ao desabar do inverno noturno
O eflúvio da angústia soa rente
Gerindo sentimento soturno
Grande tormento o peito sente
Um grito emudecido explode
Dentro do deserto em que convivo
Brota então a solitária ode
Maldito fruto deste cultivo
Sóbrio, vejo abrigo no lirismo
Meu eterno aliado renitente
Perdido, mal disfarço o cinismo
Que a tinta do papel não desmente
Em vão, busco bem-aventurança
Escavando palavras fugidias
Resta-me, tão-só, vaga lembrança
De minha infância de tardes vadias
O eflúvio da angústia soa rente
Gerindo sentimento soturno
Grande tormento o peito sente
Um grito emudecido explode
Dentro do deserto em que convivo
Brota então a solitária ode
Maldito fruto deste cultivo
Sóbrio, vejo abrigo no lirismo
Meu eterno aliado renitente
Perdido, mal disfarço o cinismo
Que a tinta do papel não desmente
Em vão, busco bem-aventurança
Escavando palavras fugidias
Resta-me, tão-só, vaga lembrança
De minha infância de tardes vadias
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Recordação - Gonçalves Dias
Quando em meu peito as aflições rebentam
Eivadas de sofrer acerbo e duro;
Quando a desgraça o coração me arrocha
Em círculos de ferro, com tal força,
Que dele o sangue em borbotões golfeja;
Quando minha alma de sofrer cansada,
Bem que afeita a sofrer, sequer não pode
Clamar: Senhor, piedade; — e que os meus olhos
Rebeldes, uma lágrima não vertem
Do mar d'angústias que meu peito oprime:
Volvo aos instantes de ventura, e penso
Que a sós contigo, em prática serena,
Melhor futuro me augurava, as doces
Palavras tuas, sôfregos, atentos
Sorvendo meus ouvidos, — nos teus olhos
Lendo os meus olhos tanto amor, que a vida
Longa, bem longa, não bastara ainda
por que de os ver me saciasse!... O pranto
Então dos olhos meus corre espontâneo,
Que não mais te verei. — Em tal pensando
De martírios calar sinto em meu peito
Tão grande plenitude, que a minha alma
Sente amargo prazer de quanto sofre.
Eivadas de sofrer acerbo e duro;
Quando a desgraça o coração me arrocha
Em círculos de ferro, com tal força,
Que dele o sangue em borbotões golfeja;
Quando minha alma de sofrer cansada,
Bem que afeita a sofrer, sequer não pode
Clamar: Senhor, piedade; — e que os meus olhos
Rebeldes, uma lágrima não vertem
Do mar d'angústias que meu peito oprime:
Volvo aos instantes de ventura, e penso
Que a sós contigo, em prática serena,
Melhor futuro me augurava, as doces
Palavras tuas, sôfregos, atentos
Sorvendo meus ouvidos, — nos teus olhos
Lendo os meus olhos tanto amor, que a vida
Longa, bem longa, não bastara ainda
por que de os ver me saciasse!... O pranto
Então dos olhos meus corre espontâneo,
Que não mais te verei. — Em tal pensando
De martírios calar sinto em meu peito
Tão grande plenitude, que a minha alma
Sente amargo prazer de quanto sofre.
domingo, 11 de dezembro de 2011
Vento noturno - Autoria própria
Ao eco do vento noturno
Sólida se torna a tristeza
E o medo invade o aluno
Trilhando suave aspereza
Vingue-se o sangue do justo
Impondo ao mau liberdade
Erga-se na praça um busto
Dê-se glória a falsa verdade
Harmonia de tudo destoa
Escapa o pilar da construção
Acompanha a linda garoa
A flor triste da destruição
Labutando bela palavra
Fica olvidada a mensagem
A dor no peito forte lavra
Anseio por última viagem
Sólida se torna a tristeza
E o medo invade o aluno
Trilhando suave aspereza
Vingue-se o sangue do justo
Impondo ao mau liberdade
Erga-se na praça um busto
Dê-se glória a falsa verdade
Harmonia de tudo destoa
Escapa o pilar da construção
Acompanha a linda garoa
A flor triste da destruição
Labutando bela palavra
Fica olvidada a mensagem
A dor no peito forte lavra
Anseio por última viagem
sábado, 10 de dezembro de 2011
Segundo movimento - Bruno Tolentino
Mas vem o amor, o amor que faz tão doce
o travo em que circula à flor do instante,
e entre resíduos vai como se fosse
suficiente, plácido e constante...
Mas se é amor é muito mais cortante
e em lâmina tão leve disfarçou-se
que por melhor alar seu golpe pôs
cintilações de ganho em cada instante.
E a alma se insurge, cobra a amor que abrande
seu ginete malsão tonto de posse,
esse peso de corpo que a alma torce
e não doma, esse breve, esse bastante
soluço da vontade no imperfeito —
mas a alma cede, a alma sucumbe ao peito...
o travo em que circula à flor do instante,
e entre resíduos vai como se fosse
suficiente, plácido e constante...
Mas se é amor é muito mais cortante
e em lâmina tão leve disfarçou-se
que por melhor alar seu golpe pôs
cintilações de ganho em cada instante.
E a alma se insurge, cobra a amor que abrande
seu ginete malsão tonto de posse,
esse peso de corpo que a alma torce
e não doma, esse breve, esse bastante
soluço da vontade no imperfeito —
mas a alma cede, a alma sucumbe ao peito...
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Maturidade - Autoria própria
Um dia, de uma criança se fez um adulto
Em sua frente o desafiava um mundo
Sua rua cresceu bem para além de seu bairro
As flores não mais estavam em seu jarro
O mar raso correu para lá no fundo
A reza que ouvia parecia outro culto
Só então, percebeu o fugir da magia
Deram-lhe em troca uma tal filosofia
Servida em conjunto com outra poesia
Mas o que de verdade se procurava
Depois do mudar brusco da sintonia?
Só o sol de outrora, que não mais voltaria.
Em sua frente o desafiava um mundo
Sua rua cresceu bem para além de seu bairro
As flores não mais estavam em seu jarro
O mar raso correu para lá no fundo
A reza que ouvia parecia outro culto
Só então, percebeu o fugir da magia
Deram-lhe em troca uma tal filosofia
Servida em conjunto com outra poesia
Mas o que de verdade se procurava
Depois do mudar brusco da sintonia?
Só o sol de outrora, que não mais voltaria.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Noturno - Bruno Tolentino
Não sou o que te quer. Sou o que desce
a ti, veia por veia, e se derrama
à cata de si mesmo e do que é chama
e em cinza se reúne e se arrefece.
Anoitece contigo. E me anoitece
o lume do que é findo e me reclama.
Abro as mãos no obscuro. Toco a trama
que lacuna a lacuna amor se tece.
Repousa em ti o espanto que em mim dói,
noturno. E te revolvo. E estás pousada,
pomba de pura sombra que me rói.
E mordo teu silêncio corrosivo,
chupo o que flui, amor, sei que estou vivo
e sou teu salto em mim, suspenso em nada.
a ti, veia por veia, e se derrama
à cata de si mesmo e do que é chama
e em cinza se reúne e se arrefece.
Anoitece contigo. E me anoitece
o lume do que é findo e me reclama.
Abro as mãos no obscuro. Toco a trama
que lacuna a lacuna amor se tece.
Repousa em ti o espanto que em mim dói,
noturno. E te revolvo. E estás pousada,
pomba de pura sombra que me rói.
E mordo teu silêncio corrosivo,
chupo o que flui, amor, sei que estou vivo
e sou teu salto em mim, suspenso em nada.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
O pescador - autoria própria
O sol, o céu azul, um dia sem norte
O pescador, um barquinho e a isca
O anzol que desce na água quer sorte
Quando mergulha fundo arrisca
O destino que está designado
Na disputa do pescador
Com a vítima, em um dia azulado
Em que um repousa, e outro tem dor
O pescador, um barquinho e a isca
O anzol que desce na água quer sorte
Quando mergulha fundo arrisca
O destino que está designado
Na disputa do pescador
Com a vítima, em um dia azulado
Em que um repousa, e outro tem dor
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Escárnio perfumado - Cruz e Souza
Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,
Vendo tão fartas,
D'uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...
E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,
Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,
Vendo tão fartas,
D'uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...
E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,
Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
O palhaço - autoria própria
Por detrás desta cara pintada
Há uma persona
Que chora
Enquanto ri
E na orgia de risos,
Ele é o bobo da ribalta
É quem redime
Nossas humilhações
E nosso passado
A alegria das crianças
Atravessa um ducto de tristezas
E deságua num rosto
Já pintado
Para esconder o esgoto
E quando chegado o seu momento
Abrem alas todas as feras
Saem o leão e o tigre
Com o fogo que lhes é fiel
E no picadeiro apenas resta
O palhaço, que sai de si
Para mergulhar
Na alegria alheia
Há uma persona
Que chora
Enquanto ri
E na orgia de risos,
Ele é o bobo da ribalta
É quem redime
Nossas humilhações
E nosso passado
A alegria das crianças
Atravessa um ducto de tristezas
E deságua num rosto
Já pintado
Para esconder o esgoto
E quando chegado o seu momento
Abrem alas todas as feras
Saem o leão e o tigre
Com o fogo que lhes é fiel
E no picadeiro apenas resta
O palhaço, que sai de si
Para mergulhar
Na alegria alheia
domingo, 4 de dezembro de 2011
Anda-me a alma - Cruz e Souza
Anda-me a alma inteira de tal sorte,
Meus gozos, meu pesar, nos dela unidos
Que os dela são também os meus sentidos,
Que o meu é também dela o mesmo norte.
Unidos corpo a corpo -- um elo forte
Nos prende eternamente -- e nos ouvidos
Sentimos sons iguais. Vemos floridos
Os sons do porvir, em azul coorte...
O mesmo diapasão musicaliza
Os seres de nos dois -- um sol irisa
Os nossos corações -- dá luz, constela...
Anda esta vida, espiritualizada
Por este amor -- anda-me assim -- ligada
A minha sombra com a sombra dela.
Meus gozos, meu pesar, nos dela unidos
Que os dela são também os meus sentidos,
Que o meu é também dela o mesmo norte.
Unidos corpo a corpo -- um elo forte
Nos prende eternamente -- e nos ouvidos
Sentimos sons iguais. Vemos floridos
Os sons do porvir, em azul coorte...
O mesmo diapasão musicaliza
Os seres de nos dois -- um sol irisa
Os nossos corações -- dá luz, constela...
Anda esta vida, espiritualizada
Por este amor -- anda-me assim -- ligada
A minha sombra com a sombra dela.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Inspiração - Autoria própria
Só com o verso
É que converso
Com instrumento
Antes disperso
Com sentimento
Lá bem submerso.
E fora inverso!
-------------------------------
Que segredo o papel me revelará hoje?
Qual lembrança reviverá?
Como será a minha Mona Lisa?
No baú, há ouro ou pedra?
Escuto Shakespeare?
Ou Bandeira?
Será que alguém vai ouvir?
Tenho algo a dizer
A poesia tem duas casas.
Mora nos livros.
E é auscultada no coração.
É que converso
Com instrumento
Antes disperso
Com sentimento
Lá bem submerso.
E fora inverso!
-------------------------------
Que segredo o papel me revelará hoje?
Qual lembrança reviverá?
Como será a minha Mona Lisa?
No baú, há ouro ou pedra?
Escuto Shakespeare?
Ou Bandeira?
Será que alguém vai ouvir?
Tenho algo a dizer
A poesia tem duas casas.
Mora nos livros.
E é auscultada no coração.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Rosa de Hiroshima - Vinicius de Moraes
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Fé - Autoria própria
Fé
Ter fé na fé
Ou ter fé na não fé
Não ter fé na fé nem na não fé
Tudo é uma só questão
Questão
De fé
Ter fé na fé
Ou ter fé na não fé
Não ter fé na fé nem na não fé
Tudo é uma só questão
Questão
De fé
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