Taranranranranranram
Tararanranranranran
Taranranranranranram
Tararanranranranram
Taranranranranranranranram
Taranananranranaram
TAN...
Frevo, folia
Sol, sombrinha
Olinda, que linda!
Onomatopeia perdida
Bêbada, vadia
Vagueia pelas ladeiras
Entre bonecos de madeira
Com o frevo retumbando
E sobe, e desce e vem
E aperta, e solta, e estica
E beija, e foge e corre
E bebe, bebe, bebe
Sem nada entender
O sol que castiga a tez
Que queima e bronzeia
A gata molhada
Com água e cerveja
Que escapa lisa
Dos beijos que se perdem
No ar
E o vendedor que vende e assiste
Ganha o pão com a cerveja
E embora ele esteja
Ainda trabalhando
Por dentro ele pula
Cobiça a menina
Que compra uma bebida
Fermentada
8:30 da manhã
Na sua blusinha
Branca
Que mais mostra que esconde
Ufana o desejo
Profana o juízo
E concita o herege
Folião
A perder a linha
Nem que vejam
Nem que seja
Nem que esteja
No meio
Da multidão
Neste segmento da hora
Sem demora
O álcool já fermenta
A imaginação
Cogito, ergo sum
Penso, logo existo
Bebo, logo existo
Bebo, logo insisto
Bebo e não desisto
Penso e insisto
Peço, não desisto
De beijar a foliã
E a moça toda prosa
Sente-se a rainha
Disputada
Rapunzel no chão
Com cabelos desgrenhados
E seus olhos bêbados
Perdeu a contabilidade
Dos beijos dados
O casal recém-agarrado
Renhidos numa disputa
Enredados num abraço
Na luta por um beijo
Ele quer, ela refuga
Ele tenta, ela finta
Ele esquenta, ela apaga
Ele aproxima, ela esgrima
Com o meneio de seu rosto
E nesse breve devaneio
Num momento desprevenido
Ela vacila e o atila
Ele beija e ela deixa
No entanto,
Enquanto
Ele comemora
O desenlace
Ela oferece sua face
Para o desembarque de um beijo alheio
E segue navegando
Na nau doutro pirata
Tararararararnaram
O bêbado Platão
Filósofo de botequim
Arrota erudição
Roubada de livros
Que não leu
Confunde Derrida com Sartre
Conclama Che e Lampião
Culpa o capitalismo
Cita Nietzsche
E espirra
Cogito, ergo sum
Bebo, logo sou bebum
Mas estamos em Olinda
Vendo o Recife
Perto do berço
De Manuel Bandeira
E do ataque do Carrossel
Holandês
Pois lá vêm os gringos
Brancos, vermelhos
Não entendem por que pulam
E de onde pululam
Tantos foliões
E o menino que trabalha
No sol, no som, na rua
No barulho, no aperto
Com orgulho
Da multidão
Que venera sua Olinda
Que visita suas Igrejas
Que veleja no Recife
Que valoriza a cerveja
Que ele vende
Taranranranranranram
Tararanranranranram
E lá vêm os bonecos
Bonecos gigantes
Imponentes
Majestosos
Resistem ao sol
Rasgando caminho no reino de Momo
Eles balançam e seguem
Marchando com feição invariante
Varando a colmeia de gentios
Com o frevo no front
Ali no meio
Um homem
Que não delira
É dilacerado pela folia
Retira-se da mentira que vê
Vai para a TV
Ver outra mentira
Afogado em falsidades
Insulado no que sente
Naufragou na multidão
Liberta sua frustração
Num palavrão
E constatações inúteis
Ilusões fúteis
Lamentos moucos
Doestos ocos
Discurso louco
Todos sabem o que se passa
Todos sabem o que se passa
Todos ignoram o que se passa
Todos ignoram o que se passa
Ignaros voluntários
Ignotos vários
Hipnose consentida
E a festa continua
Taranraranraran...
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